Onde fica a origem da tristeza? Nas coisas, nas situações? Dentro de cada um de nós?
Um amigo meu conta que, quando ele tinha uns 30 anos, estava bem empregado, ganhava bem, tinha carrão e quantas mulheres desejasse. Mas vivia melancólico e desanimado. Certo dia, ele caminhava do estacionamento onde tinha parado o carro até seu escritório, triste e arrasado. Daí, por trás de si, ele ouviu alguém cantando animadamente uma música do Roberto Carlos: “eu volteeeeiiii, voltei para ficaaaarrr… porque aquiiiii, aqui é meu lugaaaarrr”. Quando ele olhou para trás, viu que o autor da cantoria era um velho clunâmbulo* e com aparência bem pobre.
O carinha, ou a patricinha, que tem tudo que o dinheiro pode comprar, além de beleza, juventude e saúde, mas é infeliz, em contraste com alguém desprovido de todas essas vantagens, mas que tem felicidade - isso é tão clichê e, ainda assim, não se cansam de fazer livros e filmes com este tema. Sem contar o fato de que todos nós conhecemos alguém que preenche um desses perfis. O mundo tá cheio deles, principalmente os do primeiro tipo.
E quando a tristeza acaba? É estranho, mas a tristeza acaba também. Aquele meu amigo do início do post percebeu que, no momento em que ele viu o velho cantando de forma tão animada, a tristeza dele acabou. Ele conta que nem acreditou, achou que estava sendo fácil demais, e ficou por dias procurando a tristeza dentro dele. Mas ela não estava mais lá. Ele não conseguia mais se sentir desanimado, pra baixo. A expressão que ele usa é “parece que se desligou o botão da tristeza”.
Esses dias, estava eu conversando com uma colega de trabalho. Ela me contava, bem desanimada, que o sujeito com quem ela estava saindo tinha lhe dado um fora. O famoso pé na bunda. Eles não tinham exatamente um relacionamento, mas já tinham “ficado” algumas vezes. E ela estava muito triste, se sentindo rejeitada, feia, velha, bláblábláblá…
Eu só ouvia. Numa hora dessas, a gente não tem muito o que dizer, a não ser balançar a cabeça e emitir alguns sons guturais que soem consoladores. Mas, à medida que falava, ela mesma foi encontrando motivos pra se reanimar. Foi lembrando que tudo começou entre ela e o tal cara por iniciativa dele. Ele a procurava, ele buscava situações pra que ficassem juntos.
Percebeu que era sim uma mulher atraente aos olhos do sujeito. E, se ele não queria mais, paciência; ela lamentava, mas não tinha porque se culpar. Pelo menos o moço não simplesmente sumiu, pois teve a consideração de ser sincero com ela. E outra: ele pulou fora antes que ela se apaixonasse, o que também era uma grande coisa. Tudo isso foi saindo durante a nossa conversa. Palavras dela, eu realmente não precisei dizer nada.
No dia seguinte, ela me procurou pra dizer que nosso papo tinha sido ótimo, que ela não estava mais triste, que adorava conversar comigo. A situação continuava a mesma, mas parece que minha colega achou dentro dela o “botão da tristeza” e o desligou.
É claro que estou falando da tristeza normal, daquela melancolia que, vez por outra, nos acomete por causa de alguma frustração. Não é de depressão. Depressão é coisa bem diferente. Depressão é doença, possui diversos graus e precisa de tratamento médico. Não estou querendo raciocinar de forma rasa. Apenas digo que, em nossas tristezas e melancolias do dia-a-dia, a maneira da gente encarar o problema é, na maioria das vezes, o ponto-chave. Parece mesmo que a origem da tristeza tá na gente.
*Não me digam que não sabem o que é um clunâmbulo; clunâmbulo é aquele sujeito que, por não ter as duas pernas, se locomove arrastando o corpo com as mãos…
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